Reafirmação do território, fortalecimento da memória e existência digna são algumas das palavras de ordem do povo quilombola do Alto do Tororó, pessoas que fazem a Festa das Marisqueiras e Pescadores , muito mais do que uma celebração, mas também um ato de resistência em busca da titulação definitiva da comunidade. A comemoração, que desde 2018 já realizou três edições, volta ao calendário soteropolitano no dia 28 de junho, com mesa de abertura das 8h às 10h , na comunidade Alto do Tororó, localizada em São Tomé de Paripe .
A programação é diversa e celebrativa: rodas de samba, capoeira, bumba meu boi, feira de artesanato, exibição de filmes, mostra fotográfica, e a aguardada corrida de canoas — símbolo da conexão histórica com as águas da região. É também uma oportunidade para a comercialização de produtos artesanais e da agricultura familiar, fortalecendo a economia solidária e o protagonismo comunitário.
A comunidade encontra no samba um movimento de fortalecimento da ancestralidade. "Eu acredito no samba como ferramenta de aquilombamento e de alto reconhecimento da população quilombola, pra mim é também um ato político. O samba nos movimentos e a nossa ancestralidade nos guia", afirma Bárbara Maré que é liderança quilombola do Alto do Tororó e integrante do Grupo das Matriarcas do Samba .
A Festa das Marisqueiras e Pescadores é uma tradição cultural que existe no Quilombo Alto do Tororó há 40 anos. A comunidade celebra sua força e luta em torno da defesa do território a partir de suas manifestações culturais como o samba de crioula, o bumba meu boi, a corrida de canoa e a culinária. A comunidade fortalece sua identidade e pertencimento territorial e transmite para as novas gerações a importância da cultura quilombola.
“A preservação da memória, a força da ancestralidade e o cultivo da cultura popular apresentam expressão potente na Festa das Marisqueiras e dos Pescadores, retomada após um hiato de mais de quatro décadas. então Desde, a celebrar tem reafirmado o orgulho quilombola e o direito à existência digna, à pesca artesanal e à valorização das tradições locais. Mais que uma festividade, a festa é um ato de resistência e reafirmação territorial”, ressalta João Paulo Diogo, membro do Coletivo Assessoria Cirandas.
A iniciativa é uma realização do Tempero do Quilombo em parceria com o Coletivo Assessoria Cirandas, com produção da Cultura Tao. O projeto foi contemplado pela edital Gregórios – Ano IV com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), Ministério da Cultura, Governo Federal.
Festa das Marisqueiras e Pescadores
Nos anos anteriores foi comemorado no dia 29 de junho, em homenagem a São Pedro, padroeiro dos pescadores. O encontro é uma oportunidade de a comunidade celebrar sua força e luta pela defesa do território pesqueiro e quilombola, trazendo à tona sua rica cultura. A Festa é uma estratégia essencial para conectar e construir uma ponte entre as gerações passadas e as gerações presentes.
Durante o evento, diversas manifestações culturais são enaltecidas, e se fortalecem a identidade e o sentimento de pertencimento territorial da comunidade. O samba de crioula, o bumba meu boi e a corrida de canoa são alguns destaques de atividades que preservam e celebram a herança quilombola. Estes elementos culturais servem como um meio para mostrar às gerações mais novas e à sociedade soteropolitana, o valor e a força da cultura quilombola, e garantir que a história e as tradições do Quilombo do Alto do Tororó continuem vivas e respeitadas.
A iniciativa tem um papel social, político, identitário e econômico evidente que mobiliza pessoas de dentro e de fora do quilombo, e mostra a indissociabilidade entre fazer cultura e fazer política. É também um espaço formativo para crianças e novas gerações, que imersas no festejo, aprendem na prática os valores éticos e culturais que remodelam sua cosmopercepção de mundo
Quilombo do Alto do Tororó
O Quilombo Alto do Tororó, localizado em São Tomé de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, é um território de memórias vivas, forjado pelas mãos de pescadores e marisqueiras descendentes de povos africanos escravizados e indígenas Tupinambás. Com raízes lançadas no Recôncavo Baiano e na Ilha de Maré, seus primeiros habitantes chegaram navegando pelas águas da Baía de Todos os Santos e da Baía de Aratu em busca de refúgio. Foi nas encostas do Tororó que ergueram suas casas, teceram redes de solidariedade e moldaram uma comunidade marcada pelos saberes tradicionais e pelo vínculo profundo com o mar.
Reconhecido como comunidade remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares desde 2010, o Alto do Tororó ainda aguarda a titulação definitiva de seu território. Enquanto isso, enfrentamos a pressão de empreendimentos privados e a presença da Base Naval de Aratu, que restringe o acesso das famílias ao mar – fonte histórica de sustento e identidade cultural. No entanto, nem as classes militares, nem o silêncio das instituições, tampouco os interesses econômicos procuram eliminar a chama do pertencimento.
Festa das Marisqueiras e Pescadores do Quilombo do Alto do Tororó
Data: 28/06 Mesa de abertura – 8h às 10h
Abertura - Contará com a presença de algumas entidades como: Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI); Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA); Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Ouvidoria do Estado; Fundação Gregório de Matos e Secretaria de Reparação Municipal.
Apresentação Cultural – 10h - Matriarcas
Corrida – 10h30 às 12h30
Samba - QUIAL – 12h30 às 14h
Mesa – 14h às 15h
Composta por representantes da Comunidade do Alto do Tororó; Jurandir (Pitanga de Palmares); Cacique Ramos; Dona Olinda; Assessoria Cirandas – Glauber; Jerry - Caritas; CESOL; Santa Luzia; Rejane (Quingoma).
Apresentação Cultural - 15h às 15h30 - Mãos de Couro
Apresentação Cultural - 15h30 às 17h - Kiabo Capoeira; Matriarcas Mirim – Samba e Boi Mirim
Premiação da Corrida – 17h às 17h30
Show Van Black – 18h às 22h