Em uma celebração de resistência, fé e respeito à ancestralidade de matriz africana, o Abassá de Ogum e a comunidade de Itapuã se preparam para comemorar, no próximo dia 30 de novembro, os 10 anos do Busto de Mãe Gilda de Ogum. O evento, que ocorrerá no Parque Metropolitano do Abaeté, em Itapuã, a partir das 9h, marca também a inauguração das obras de requalificação e acessibilidade no entorno do monumento para promover inclusão e homenagear o legado de Mãe Gilda contra a intolerância religiosa.
Na ocasião, serão realizadas ações educativas, incluindo o lançamento de uma cartilha que narra a trajetória de Mãe Gilda e sua contribuição nas ações de combate ao racismo religioso. Com a requalificação, o espaço passa a contar com placa em braile e recurso de audiodescrição, rampas de acesso e piso tátil, garantindo a acessibilidade das pessoas visitantes. Haverá ainda uma apresentação do Bloco Afro Malê Debalê.
O evento é aberto ao público e contará com a presença de autoridades locais, membros das comunidades religiosas de Itapuã e representantes das instituições parceiras. Uma comitiva de lideranças religiosas do Recife também participa da celebração, representando a tradição do Candomblé Nagô que é a raiz do Abassá de Ogum.
Desde a sua criação em 2014, o busto de Mãe Gilda, obra da renomada escultora Márcia Magno, se configura como símbolo de resistência e afirmação das religiões de matriz africana. Com 1,70 metros de altura e confeccionado em bronze, o monumento foi viabilizado numa parceria entre a Fundação Cultural Palmares e a Fundação Gregório de Mattos, em resposta a longa mobilização social, religiosa e política realizada pela yalorixá Jaciara Ribeiro, filha carnal de Mãe Gilda e liderança religiosa do Abassá de Ogum.
"O busto de Mãe Gilda, para mim, é uma luta de dor, porque se trata da imagem da minha mãe biológica. A gente tem visto que os casos de intolerância religiosa têm crescido mais no estado da Bahia. O Brasil tem vivido isso, essa ira, esse ódio. Então, é necessário marcar território com a imagem de uma yalorixá. Não é só a imagem da minha mãe, é pedir reparação para todas as mulheres que foram arrancadas de África, por yalorixás que neste momento são silenciadas, que têm seus terreiros invadidos”, defendeu Jaciara Ribeiro.
A celebração dos 10 anos de instalação do Busto de Mãe Gilda de Ogum conta com o apoio do Ilê Axé Ufa Omi Layó; o Iyá Àkobiode; a Renafro - Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde; Apa - Área de Proteção Ambiental das Lagoas e Dunas do Abaeté; o Koinonia; a Cese; o Bankoma - Comunidade Negra; o Bloco Afro Malê de Balê; o Cirb - Comitê Interreligioso da Bahia; a Fundação Gregório de Matos; o Instituto PACS; as Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais e de Assistência e Desenvolvimento Social do Governo da Bahia; e o MIR - Ministério da Igualdade Racial.
Preservação da memória ancestral
O projeto de revitalização do espaço do Busto de Mãe Gilda de Ogum foi aprovado pelo Edital Lunda Kingana - Preservando Memória, por meio dos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura. A política pública foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar no 195, de 8 de julho de 2022.
"Este é um momento de celebração, mas também de reflexão sobre a importância de mantermos vivos os ensinamentos e a história de figuras como Mãe Gilda, que lutaram incansavelmente por um mundo mais justo e respeitoso às diversidades religiosas. Minha mãe era mulher de Ogum. Ele com certeza está na frente nos protegendo para a gente deixar esse legado, a história dela não cair sem uma reparação de visibilidade, de reconhecimento. O busto dela também é educação para um presente e um futuro melhor”, ressalta Yá Jaciara.
Mãe Gilda: símbolo do respeito religioso
Mãe Gilda de Ogum (Gildásia dos Santos e Santos) nasceu em Salvador em 1935 e se tornou um símbolo de resistência e afirmação das religiões de matriz africana. Após o terreiro Axé Abassá de Ogum ter sido invadido e depredado, Mãe Gilda lutou ativamente contra a intolerância religiosa, tornando-se uma referência para a comunidade de terreiro de todo o país.
Em reconhecimento à sua luta, o dia de sua morte, 21 de janeiro, foi sancionado como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, por meio da Lei 11.365/2007. A celebração reforça a importância do patrimônio cultural afro-brasileiro e o papel fundamental de líderes como Mãe Gilda na construção de uma sociedade inclusiva e pautada no respeito a todas as pessoas.
Em 2024, o Ministério da Igualdade Racial em parceria com a Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz, lançou um edital de fomento a projetos que promovam a valorização e o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana e de terreiros por todo o território brasileiro. Com aporte financeiro de R$ 1,5 milhão, cerca de 30 projetos de todas as regiões do país receberam financiamento.
Celebração dos 10 anos do busto de Mãe Gilda de Ogum
O quê: Cerimônia de celebração dos 10 anos do busto de Mãe Gilda de Ogum e inauguração das obras de requalificação e acessibilidade (aberto ao público)
Quando: 30 de novembro de 2024, sábado, a partir das 9h
Onde: Parque Metropolitano do Abaeté, Itapuã, Salvador
Programação:
9h - Cânticos sagrados e cerimônia de abertura
9h30 - Apresentação das ações realizadas no contexto dos 10 anos do Busto
9h40 - Fala das autoridades, representações políticas e religiosas
11h - Inauguração da obra de requalificação
11h20 - apresentação do Bloco Afro Malê Debalê
Mín. 25° Máx. 27°