'Semear Sonhos' é a proposta criativa para 2025 da CASACOR, maior plataforma cultural de arquitetura, paisagismo, arte e design de interiores das Américas. O tema, definido pela equipe curatorial após estudo de cenários e tendências, foi apresentado nesta terça-feira (5) no Teatro Cultura Artística, em São Paulo, durante o Eixos CASACOR, evento anual que destaca o futuro da arquitetura e do design, apresentando novas perspectivas de mercado para a comunidade de arquitetos e patrocinadores.
O tema foi revelado junto a uma exploração visionária conduzida pelo arquiteto e designer Marko Brajovic, especialista em biomimética – área da ciência que estuda a natureza para criar soluções inovadoras e sustentáveis para os desafios da humanidade. Formado em arquitetura pela Universidade de Veneza, com mestrado em Design Paramétrico, Brajovic é conhecido por colaborar com marcas e instituições culturais, criando obras que conectam design, natureza e arte.
A apresentação do Atelier Marko Brajovic, intitulada 'Cidade-Floresta', serviu como introdução para as reflexões que a CASACOR quer pautar no próximo ano e para reafirmar seu compromisso de estar em sintonia com as questões contemporâneas que impactam o mercado. A marca anunciou também outras novidades, como sua expansão para a Costa Rica, na América Central, um novo site totalmente reestruturado e focado na experiência do usuário, além da data da mostra paulistana, principal evento do calendário, que ocorrerá de 20 de maio a 27 de julho.
Semear Sonhos
O tema da CASACOR 2025 se apoia em três pilares: sonhos coletivos, ecossistemas em cooperação e confluência de saberes. O primeiro convida a refletir sobre a capacidade de sonhar coletivamente e criar um futuro desejável, que guie as ações do ser humano com harmonia e colaboração.
Em seguida, está a integração entre o urbano e o natural, promovendo a ideia de cidades como ecossistemas vivos, que desafiam a separação entre o ambiente construído e a natureza, propondo a criação de cidades que funcionem como florestas. Soma-se ainda a colaboração entre diversas disciplinas e culturas, com a transdisciplinaridade sendo fundamental para desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis, conectando arquitetura, engenharia, biologia, ciências sociais e muitas outras áreas.
Livia Pedreira, presidente da curadoria, explica que a ideia é instigar os profissionais a repensarem suas práticas, num cenário em que a densidade populacional nas áreas urbanas tende a crescer cada vez mais. "O mais recente Relatório das Cidades Mundiais, da ONU-Habitat, aponta que 68% da população será urbana até 2050. Hoje, em média, 56% da população global já vive nessas áreas. A pesquisa da CASACOR acena para a natureza como aliada nas cidades, que é onde a vida acontece. É preciso imaginar um novo morar e sonhar com o coletivo, num pacto planetário pela sobrevivência da espécie humana."
Com a palavra, Marko Brajovic
"As coisas não acontecem se não puderem ser imaginadas", afirma Marko Brajovic ao falar sobre uma de suas recentes provocações, na qual apresenta uma imagem da Marginal do Rio Pinheiros, em São Paulo, transformada em área coletiva e habitada por diversas espécies, com água própria para banho, em meio a uma vegetação tropical, funcionando como uma floresta alimentar urbana.
Esse cenário de sonhos, transformado em realidade pela biomimética, inspira-se na agricultura energética regenerativa natural por algas, interagindo com processos metabólicos de tratamentos de água e distribuição digital de informação. Todas as formas de vida trabalham em uma rede integrada com arquitetura de inspiração biológica, atividades produtivas humanas, abundância e coexistência nutritivas.
"Sofremos de incapacidade de visualizar futuros possíveis. Quando apresento esse tipo de imagem, quero reativar essa habilidade". Com esse e outros projetos inspiradores de arquitetura e design de experiências, Marko Brajovic traz reflexões sobre a espinha dorsal do tema da CASACOR 2025, 'Semear Sonhos'. Ele deixa claro que não temos respostas, mas boas perguntas sobre como o ser humano pode usar sua capacidade de antecipação e adaptabilidade para viver coletivamente num planeta que já enfrenta os impactos das mudanças climáticas.
"Os habitantes da cidade precisam se apaixonar pelo futuro, e essa paixão tem que transcender a lógica mercantil que define o que é possível e impossível. Sonhos que sonhamos juntos viram realidade intersubjetiva, compartilhada. Na natureza, o que garante a sobrevivência é a cooperação, as relações solidárias entre todos os seres, humanos e não humanos", diz.
Além da colaboração, segundo Marko, a natureza também ensina sobre processos regenerativos, que podem ser aplicados de forma biomimética em diversos projetos. Ele explica que na cidade multiespécie, pensada para acolher todas as formas de vida, não existem parques isolados. Está na hora de fazer o conceito evoluir, trazendo um novo panorama no qual o mapa da cidade não terá mais quadrados verdes dentro de um imenso quadrado cinza. A intenção é que o verde se espalhe por todos os cantos, levando consigo insetos, pássaros, fungos, água, sombra e frescor, além de melhorar a qualidade do ar. Tudo entrelaçado às dinâmicas cotidianas da cidade-floresta.
"O ambiente romântico, intocado, em que você vai para contemplar uma natureza confinada e depois retorna ao cotidiano, ficou obsoleto. Os parques contemporâneos são os locais onde as cidades do futuro nascerão, porque muitos deles já estão em transformação. Vemos a presença de lojas, marcas, ativações e eventos. Isso é positivo porque cria uma relação operacional entre o parque e outras estruturas urbanas", explica.
"Precisamos nos apropriar dos nossos parques, ter empatia por eles, criar uma relação de identidade e cuidado. Se os habitantes se reconhecerem ali, será possível, a partir desses lugares, imaginar cidades", conclui.
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