Música ao vivo, depoimentos, entrevistas, manifestos e poemas. Todos esses elementos compõem o mini-documentário musical 'Fêmina - A Natureza Feminina da Ilha de Itaparica', projeto do duo Barù, que estreia nesta sexta-feira (6) e defende o protagonismo e resistência das mulheres itaparicanas que marcaram e ainda marcam a história da cidade. Com quatro canções autorais, o mini doc já está disponível no canal do Youtube da banda.
Formado pelos cantores e compositores João Acácia e Mayra Couto, o duo Barù traz em cada música a história de vida de quatro personagens fortes: Maria Felipa (através da atriz e professora Cláudia Souza), Magé Rivia Tupinambá, Cida da Silva e Eliana Falayo, cada uma associada a um elemento da natureza que mais a representa, fazendo referência também a arquétipos espirituais do Candomblé que melhor simbolizam elas.
O documentário defende que a resistência destas personagens femininas foi importante não só para Itaparica, mas para a formação social e histórica da Bahia e do Brasil. Não à toa, o termo escolhido para nomear o projeto é “Femina”, palavra que vem do latim e significa “mulher” e “fêmea”.
Classificada como Nova Música Popular Brasileira, a sonoridade do trabalho é marcada pela programação de beats eletrônicos e seu amplo espectro de efeitos, somadas às claves rítmicas da cultura afro-brasileira. Além de Mayra Couto no vocal e João Acácia na guitarra, as percussionistas Lalá Evangelista e Dedê Fatuma colaboraram na criação dos arranjos.
“Fêmina” é o segundo trabalho de uma trilogia de projetos que está sendo desenvolvida pela Barù. O primeiro deles foi o single “Orixá é Ouro”, com clipe e canção lançados em Salvador em julho na Casa da Mãe, no Rio Vermelho, espaço que vem revelando novos nomes da música produzida na Bahia. Com o mini-doc, a sequência de trabalho da banda promete continuar surpreendendo amantes da música e da cultura afro-indígena.
Natureza Feminina da Ilha:
“Conseguimos enxergar uma Itaparica para além de um lugar com praias paradisíacas, mas sim um território marcado por uma história onde encontramos figuras femininas de muita força. Nós vimos que o real engajamento em ações de apoio social e emocional para o povo nativo acontece muito por conta da liderança delas, que muitas vezes foram invisibilizadas em tantas esferas”, diz Mayra Couto.
Para João Acácia, envolver-se na produção de conteúdos ligados ao feminino é uma forma de se posicionar no reconhecimento da importância destas mulheres.
“Falar, produzir e criar conteúdos ligados ao feminino, sendo um homem negro cisgênero, é uma forma de acessar outros pontos de vista, contribuindo com visões de mundo que batem de frente com o patriarcado, colocando em questão as minhas próprias construções masculinas e machistas”, reflete.
As personagens:
Cada uma das quatro personagens principais do projeto representa os elementos Fogo, Terra, Água e Ar. Quem retrata o fogo é a heroína Maria Felipa, grande nome da guerra da independência da Bahia, representada no curta pela atriz Ana Claudia Sousa. Ana traduz o elemento fogo através da expressão corporal, da força da sua voz e de uma postura altiva.
Já simbolizando a Terra, está Magé Rivia Tupinambá, uma liderança de seu povo que atualmente se encontra em processo de retomada na região de Abrantes, em Camaçari, onde sofre ameaças e invasões de território há anos, mas segue na luta pela preservação da sua terra e da sua cultura.
Para a Água, a protagonista é Cida da Silva, marisqueira que fez do mar seu sustento por ano e como a renda oriunda deste ofício foi também uma forma de libertação. Por fim, Eliana Falayo, egbome do terreiro Ilê Agboulá, representa o Ar, devido à sua relação com a espiritualidade. A egbome reflete sobre a necessidade de trocas contínuas e equilibradas entre os humanos e a natureza.
Cada elemento também teve uma localidade específica de filmagem, a Praia do Forte foi o cenário principal da Água, enquanto a Reserva dos Caboclos, de Itaparica, deu lugar à narrativa da Terra. Já o fogo apareceu com o pôr do sol na Marina de Itaparica, e a antiga fonte de água do bairro Alto da Bela Vista foi escolhida para o elemento Ar, isso por conta da presença tradicional de diversos cultos de matriz africana na região.
Sobre a BARÙ:
Barù é um projeto artístico criado em 2020 pelos cantores e compositores João Acácia e Mayra Couto. Em 2021, a banda já celebrava duas conquistas: o prêmio de Melhor Direção de Arte com o clipe ‘Visual Mergulho’, no Festival Nacional CawCine, especializado em produções com temática ambiental; e o de canção finalista no Festival de Música Rádio MEC, com ‘Colo do Mundo’. Em 2022, o projeto cultural foi selecionado pelo ‘Acelera Iaô’, da Fábrica Cultural, então dirigida por Margareth Menezes, atual ministra da Cultura. Para mais informações sobre os projetos da BARÙ, o duo está no Instagram com @baru.somos
Mayra Couto iniciou os estudos em canto e teoria musical aos oito anos, no Coral das Meninas Cantoras de Petrópolis (RJ), onde teve a oportunidade de participar de várias edições do Projeto Aquarius, um dos maiores eventos de música clássica do país, e de cantar com grandes nomes da MPB como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Simone. Mayra é graduada em Musicoterapia pelo Conservatório Brasileiro de Música e há mais de uma década atua com crianças com espectro autista e pessoas em situação de vulnerabilidade.
João Acácia é músico, produtor musical e cinegrafista atuante no mercado audiovisual baiano. Designer formado pela PUC-Rio e mestre em Geografia e Sustentabilidade pela mesma instituição, ele tem experiência de mais de uma década no mercado criativo. A partir das suas pesquisas sobre ecologia, decolonialidade e povos originários, cria narrativas socioculturais afro-brasileiras e latinas, usando música e audiovisual como ferramentas de transformação da sociedade.